sábado, 11 de outubro de 2008
Top 10 do Festival
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Nasce uma estrela
Acabou!!!!
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Responda ao guru!
Quem vai ganhar?
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Considerações
domingo, 5 de outubro de 2008
Day off
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Ranking da primeira semana
O Festival até aqui.
Vou começar com as tristezas de, por exemplo, não ter conseguido ingresso para Vicky Cristina Barcelona, A Viagem do Balão Vermelho e nem A Fronteira da Alvorada, o novo de Garrel-pai com Garrel-filho. Em compensação o que a gente ganhou foi a cabertura de quase todas as noites de estréia de filmes nacionais: A Festa da Menina Morta, Feliz Natal (com crítica sendo preparada), Pan-Cinema Permanente, Última Parada 174. Legal demais poder pensar a produção nacional (pelo menos uma fatia dela) sendo exibida em conjunto, podendo comparar uns com os outros e torcer pelo futuro dos bons.
Bacana também têm sido exercitar o lado jornalista (no meu caso, mais o de fotojornalista) e entender como funcionam questões como pauta e ética da foto com flash (que como dizem os mais engraçados: foto com flash não favorece a beleza dos amigos) e aprendendo com tudo isso da maneira mais, é... embaraçosa é uma boa palavra. O bom é que chega o final do dia é você tem até coragem de chegar pra Alessandra Negrini e dizer 'oi'. Aliás, ela tá lá todo dia, que nem a gente.
Ah, aproveitando que falamos de gente que tá lá todo dia vou contar sobre uma possível pauta aqui do blog dos players: as figuras mais figuras deste festival, entre anônimos que adoram pegar carona na proximidade com os famosos para entregar um currículo ou vender um cd, ou aqueles lunáticos que como todo bom cinéfilo já perdeu muitos parafusos pelo chão do cinema.
E agora, for-fun, vamos rankear os filmes mais legais vistos até aqui?
geo euzebio says:
1. A Mulher Sem Cabeça
2. Feliz Natal
3. O Bom, o Mau e o Bizarro
4. Derek
5. Ano Unha
Menções honrosas à Sinédoque, Nova Iorque (Kaufman, beijomeliga pra gente conversar sobre a sua vida!!!1), A Erva do Rato (com Negrini bonita e corajosa e Selton Mello contido), Liverpool (por que chateou todo mundo, mas me fiz rir).
E agora a sessão beijinhos-da-xuxa para a Érika Liporaci, o Andy Malafatus e o Selton Mello.
E lá se foi mais um dia!
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Feliz Natal!
terça-feira, 30 de setembro de 2008
Enquete
Hora de dormir?
domingo, 28 de setembro de 2008
Tá difícil
Meninos, eu vi...
sábado, 27 de setembro de 2008
1o. dia (pq haja criatividade pra titular esses posts!)
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
Agora começou de verdade
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Ontem
A fase pré-festival terminou!
Logo pela manhã aconteceu a sessão para jornalistas de Última Parada 174, o tal filme nacional escolhido como representante brasileiro no Oscar e sobre o qual pouco se sabia. Roteirizado por Bráulio Mantovani, o filme cria um entorno fictício para a vida de Sandro, cujo desfecho foi assistido ao vivo em rede nacional. Utilizando os chamados não-atores, o filme ganha credibilidade pelas atuações, pelo roteiro bem costurado e pela fotografia de Antoine Heberlé. E como disse anteriormente, é um filme do qual se sai com os sapatos pesados, e isso não é uma metáfora simples: depois de sair da sala, levei uns 20 minutos pra atravessar andando um único quarteirão. E mais não direi, já que a crítica está sendo preparada com todo carinho e estará no ar em breve.
Para não dizer que não reclamamos de nada, tivemos também a sessão de Liverpool, do - como diz o Andy - novo queridinho latino, Lisandro Alonso. Com planos longuíssimos e uma história que praticamente nos é explicada em apenas dois momentos, a fotografia acaba sendo o mais interessante. No final, Alonso ri da nossa cara, mas sinceramente, eu ri de mim e dele, e isso foi o mais bacana do filme todo.
E fechando o dia, A Mulher sem Cabeça da argentina Lucrecia Martel foi até agora meu filme predileto, de um psicologismo intenso e intricando, e demonstrado toda a segurança da diretora... mas também não estragarei as surpresas. Guardemos para a crítica.
Hoje, enfim, é a noite de abertura oficial, com a sessão de 174. Estaremos lá, colados.
Amanhã diremos como tudo se passou!
terça-feira, 23 de setembro de 2008
O retorno dos que não foram
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Dia estranho de gente esquisita!
domingo, 21 de setembro de 2008
Segundo dia das cabines
sábado, 20 de setembro de 2008
Fest. Rio: primeiros três filmes!
sábado, 13 de setembro de 2008
Os cinemas de bairro e o Festival do Rio
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Esquentando os Tamborins
sexta-feira, 6 de junho de 2008
Control, a história de Ian Curtis.
O Joy Division é uma banda que nunca esteve entre as minhas prediletas, apesar de saber cantarolar algumas músicas - já clássicas - deles. À parte disso, convivi com alguns adimiradores da poesia de Ian Curtis e ouvi uma ou duas histórias a seu respeito, que acabei encontrando representadas neste que é o primeiro longa dirigido pelo fotógrafo Anton Corbijn. Ele que, fotografando para a revista NME conheceu a banda e seu vocalista.
Tendo como referência o famoso livro de memórias Touching From A Distance escrito por Deborah Curtis (Samantha Morton), a esposa de Ian (Sam Riley), o filme concentra a maior parte de sua atenção ao triângulo amoroso montando pelo casal Curtis e pela belga Annik Honoré (Alexandra Maria Lara), que era jornalista nas horas vagas e acabou entrevistando a banda, depois do que tornou-se namorada do controverso vocalista, que, para os que não sabem, suicidou-se em maio de 1980.
Não entendo por qual motivo dois filmes são lançados em tão curto espaço de tempo tendo como tema a história do Joy Division, seja falando propriamente da banda ou enfatizando a vida particular de Curtis, mas essa semana estréia também Joy Division, este um documentário, bem mais interessante do que Control.
(Sam Riley interpretando Ian Curtis)
Aliás, comecei este texto para falar do que NÃO é bacana em Control:
1. Anton Corbijn não podia ter achado que por ter conhecido o personagem principal desta história ele estaria apto a contá-la. Saiu de sua posição de fotógrafo e diretor de videoclipes (o clipe de Heart-Shaped Box foi dirigido por ele) para alçar vôos maiores, mas não soube segurar a peteca. Com este relato ele não acrescenta nada de novo a biografia de Curtis, já que apenas reproduz cenas-clichês da história dele, conhecidas de cór e salteado pelos fãs do cantor.
2. Sam Riley a mim não conseguiu convencer, apesar da aparência física com o músico. Faltou um pouco de emoção a alguém que acorda depois de um ataque epilético decidido a tirar a própria vida. Além do que, sua imitação da famosa dança de Curtis me deixou com aquele sentimento de quase-caricatura. No entanto, tanto o personagem quanto sua dança eram peculiares demais, ou seja, acho difícil que alguém consiga imitá-lo melhor.
Mas, eu posso estar totalmente enganada a respeito do que escrevi sobre este filme, porque o pessoal do Festtival de Cannes 2007 deu até prêmio para ele. E ainda elogiou a atuação de Sam Riley. Mas sabe, tem muita coisa no mundo que eu realmente não entendo. Inclusive o fato de Ian Curtis ter escolhido morrer na véspera da viagem de sua primeira turnê na América.
Quem entende?
sábado, 10 de maio de 2008
Vagas para editores e versão 2.4.1 de Cine Players
As inscrições estão abertas até o último dia de maio, e vai demorar umas duas semanas para analisarmos todos os currículos para definir quem serão os novos editores do site. Após esse processo ser encerrado, daremos início ao desenvolvimento da versão 2.4.1 de Cine Players que, entre outras novidades, contará com:
- seção Oscar permitirá mais de um vencedor por categoria (é uma limitação que temos no sistema hoje que será resolvida);
- top de filmes mais votados - qual o filme mais popular do site?
- novos avatares para os leitores - hoje disponibilizamos apenas o velho sombra (abaixo). Teremos mais opções, visto que atualmente há muitas imagens quebradas nas fotos dos leitores. Isso também é parte de um esforço para enriquecer a recém-criada "Central de Usuários".
- a busca do topo da página trará resultados de palavras-chave, dando continuidade à integração desse ótimo recurso dentro do site.
- fórum por filme: cada ficha de filme (seja ele lançado ou ainda não lançado) terá um fórum para troca de idéias e discussão sobre o filme.
segunda-feira, 28 de abril de 2008
Trick or treat?
sábado, 26 de abril de 2008
Muito Além do Jardim
E vocês? O que andam vendo?
Vácuo criativo
Como contraponto, na semana passada batemos nosso recorde diário de visitantes, motivo que mostra que o site continua crescendo às pampas.
Em breve provavelmente (e note o negrito) teremos novas vagas para editores sendo abertas. Fique ligado! As informações estarão disponíveis na capa do site.
quarta-feira, 16 de abril de 2008
A famigerada década de 80 (um comentário)
Esses adolescentes...
Correção: antes que alguém me espinafre, sei que tem títulos ingleses ali também, mas vocês entenderam o que eu quis dizer.
sábado, 12 de abril de 2008
A famigerada década de 80
Conversando com os muitíssimo bem informados adolescentes que lêem o Cineplayers (impressionante o quanto essa garotada entende de cinema!), estou revendo minha posição sobre a década de 80. Escrevi que, fora Blade Runner e Amadeus, o resto da produção cinematográfica da “década perdida” podia ser jogado fora.
Três garotos me fizeram ver que alguns filmes do Woody Allen valeram a pena e, em especial, as obras de Lawrence Kasdan, como O Turista Acidental, grande filme – dele, eu ainda prefiro O Reencontro e Grand Canyon- Ansiedade de uma Geração – não são de se jogar fora. E não são mesmo.
O Turista Acidental é de 88 e concorreu ao Oscar junto com o excelente Ligações Perigosas, outro grande filme. De 1980, tem Touro Indomável e O Homem Elefante, filmes que considero medianos.
De 1981, Os Caçadores da Arca Perdida.
De 1982, E.T. – O Extraterrestre e Tootsie.
De 1983, Os Eleitos.
Em 1984, além do citado Amadeus, há Passagem para a Índia, excelente também.
Em 1985 tivemos A Cor Púrpura, O Beijo da Mulher Aranha.
Em 1986, Hannah e suas Irmãs, Platoon e Uma Janela para o Amor.
Em 1987, O Último Imperador, filme menor de Bernardo Bertolucci.
Charlton Heston
Perguntaram certa vez à pensadora e feminista Simone de Beauvoir se ela via os épicos bíblicos e ela, atéia confessa, disse que sim, claro, "para ver as pernas dos centuriões romanos".
Para tanto, ela se sentava logo nas primeiras filas dos cinemas.
quarta-feira, 9 de abril de 2008
Os premiados no É Tudo Verdade:
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Longa/Média Metragem
Melhor Documentário - Cosmonauta Polyakov, de Dana Ranga (Alemanha)
Curta-metragem
Melhor Documentário - Apenas Um Odor, de Maher Abi Samra (Líbano)
Competição Brasileira
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Longa ou Média Metragem
Melhor Documentário Prêmio CPFL Energia É Tudo Verdade “Janela para o Contemporâneo” - Pan-Cinema Permanente, de Carlos Nader
Menção Honrosa - Simonal – Ninguém Sabe o Duro Que Dei, de Claudio Manuel, Micael Langer e Calvito Leal
Menção Honrosa - O Aborto dos Outros, de Carla Gallo
Curta-Metragem
Melhor Documentário - Remo Usai – Um Músico Para o Cinema, de Bernardo Uzeda
Menção Honrosa - Dossiê Rê Bordosa, de César Cabral
sexta-feira, 4 de abril de 2008
Versão 2.4.0 a todo vapor
- séries televisivas;
- top de palavras-chave (as mais populares);
- avatares pré-definidos para os usuários do site (além do já tradicional "homem sombra", vamos incluir outras opções);
- cadastro de conteúdo pelos usuários;
- cobertura de bilheterias;
- lista "quero assistir", que possibilita ao usuário criar um cadastro dos filmes que deseja ver.
Há muito mais do que isso que está listado aí em cima, mas vamos por partes. Antes, porém, aproveitem a versão 2.3.1 que já é completíssima e curtam as prometidas novidades para a próxima versão. Quem ama cinema, agradece.
Update 06/04/2008: como já devem ter percebido, apenas um dia depois do post a versão foi lançada. Realmente foi rápido. Agora é voltar ao trabalho normal do site, o que inclui novas críticas, atender alguns pedidos de fichas de leitores, atualizar fichas sob solicitação de leitores, etc. Boa leitura!
É Tudo Verdade: último post.
Mostra Competitiva – Longas:
Cosmonauta Polyakov (Cosmonaut Polyakov. Dana Ranga, 2007)
Polyakov é um russo e foi o homem que mais tempo passou ao redor da terra. Grande conhecedor das minúcias da vida no espaço, o filme é uma entrevista didática em que ele nos conta e mostra o lado bom e ruim de ser astronauta. O processo probatório, o dia-a-dia no espaço, as conseqüências da falta de gravidade e radiação para o corpo humano, a experiência de comunhão com os outros tripulantes, vivendo em conjunto por tanto tempo, e sua família em terra, são tópicos do documentário. Com uma inocência infantil, Polyakov se emociona quando lembra que estar no espaço foi uma das mais felizes coisas que realizou durante a vida. Um pequeno diferencial no curso normal dos documentários é que durante a entrevista, víamos também uma sessão de fotos com o astronauta russo, e posteriormente algumas manipulações dessas imagens.
Vivendo hoje de treinar e estudar as possibilidades de viagens tripuladas à superfície de Marte, ele revela que existem homens que nascem para exercer esse papel maior e anularem-se em prol de algo mais valioso no curso da história das sociedades. Pelo menos Polyakov pode dizer que cumpriu seu papel.
Mostra Restrospectiva do Documentário Experimental Brasileiro:
Semi-Ótica (Antonio Manuel, 1973)
Utilizando fotos de crimes e de alguns homens comuns, o documentarista cria uma pequena ficha que propõe novas identidades aos fotografados, inserindo-os em novos contextos sociais que não os deles, inclusive alterando a catalogação da cor de suas peles, ou mesmo o sexo. Numa referência clara à temática levantada por Hélio Oiticica – Seja Marginal, Seja Herói – em que deu status de arte à foto do corpo morto do conhecido bandido da década de 1960, Cara de Cavalo, Antonio Manuel procura reavivar esta idéia, retirando da marginalidade alguns personagens desconhecidos.
Juvenília (Paulo Sacramento, 1994)
Produzido com apoio da ECA-USP esse documentário que mais parece um curta-metragem de ficção, mostra através de fotos estáticas um grupo de jovens se divertindo enquanto torturam um vira-latas. Usando vários tipos de apetrechos como pás, marretas e pedras, a ação dos jovens causou certo desconforto à moça que estava ao meu lado, que preferiu virar o rosto durante os 7 minutos de duração do curta.
Utilizando a música para enfatizar a ação, uma curiosidade sobre o filme é a atuação de Soninha, a ex-vj da MTV e hoje deputada (?) pela cidade de São Paulo.
Chapeleiros (Adrian Cooper, 1983)
Mostrando a ação de um dia numa fábrica de chapéus, o que vemos é todo o processo produtivo na confecção do produto, os movimentos repetidos, as diferentes funções e a variação das pessoas que compõem os trabalhadores da fábrica: adolescentes, donas-de-casa, rapazes com jeito de galã, senhores e senhoras de idade que durante o processo se igualam pelo trabalho e se individualizam apenas no final do dia, quando deixam a fábrica e voltam a seus cotidianos e referências singulares.
Interessante é que o cineasta enfatiza, durante a saída, que alguns trabalhadores usam chapéus. De onde terão vindo eles, os chapéus?
Vera Cruz (Rosangêla Rennó, 2000)
Numa tela quase branca alguns traços que se movimentam ao ritmo do mar, cujo som escutamos e que varia de acordo com a tonalidade da tela, dando idéia de claro-escuro. Assim é que lemos os possíveis diálogos que envolveram a chegada das naus de Cabral às terras brasileiras. O primeiro contato com os índios; as trocas; a primeira missa; o espanto com os corpos nus e as tentativas de misturarem-se e conhecerem melhor uns aos outros são o teor dos diálogos.
Uma nova forma de tratar o conhecido texto da carta de Pero Vaz de Caminha, excluindo a dramatização – em geral, tão cafona – do encontro entre portugueses e índios. O documentário apenas sugere aquilo que nunca poderá voltar a ser reproduzido com exatidão: a imensidão do novo. Para ambos os lados desse diálogo.
Com esse último post me despeço do É Tudo Verdade, que continua até domingo aqui no Rio de Janeiro.
Outro dia posto sobre os vencedores das mostras competitivas.
quinta-feira, 3 de abril de 2008
É Tudo Verdade: Cinema Inocente e Subindo o Rio Amarelo
Mostra Retrospectiva do Documentário Experimental Brasileiro
Cinema Inocente (Júlio Bressane, 1980):
Um documentário cujo elemento fundamental é a montagem, em que Júlio Bressane sai a procurar de Radar, montador de uma centena de pornochanchadas e figura por demais simpática. Aproveitando o fato de ter sido chamado pelo entrevistado de Pedrinho e cineclubista, Bressane parece convencer o montador a uma jogada lúdica, a possibilidade de ser o ator dessa vez, sendo ele mesmo. E a partir daí vemos várias situações cujas correlações são a montagem e a ‘desestigmação’ do cinema, no sentido de que tudo gira em torno dos clichês e dos ícones maiores da sétima arte: entre uma cena e outra, a intercalação de clássicos do nascimento do cinema – quando o simples registro do cotidiano era o principal tema -, e cenas de pornochanchadas, além de muitos devaneios; folheamos um exemplar inteiro de Cahiers du Cinéma, assim como vemos Bressane entrevistar um pseudo cineasta francês, amigo de Radar, tudo isso baseado no mote do filme: cinema inocente é aquele que é feito sem a consciência do que é cinema.
Sabe que no final das contas eu cheguei mesmo a duvidar que Radar se chame Radar e saiba montar um filme?
(Se não fosse pelo Bergman, elegeria este o melhor filme do dia)
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Mostra Competitiva - Longas
Subindo o Rio Amarelo (Up the Yangtze. Yung Chang, 2007):
Um documentário que se ocupa em mostrar uma das faces do novo capitalismo criado pela China, cujos impactos da criação de uma das maiores hidrelétricas do mundo, a Três Gargantas, é sentido pelo homem comum. Uma das cenas mais impactantes inclusive é a de homem, que como todos os 4 milhões de relocados devido a criação da barragem, não consegue esconder a própria emoção ao dizer que é muito difícil o cotidiano de um homem comum na China hoje, deixando de lado a costumeira contenção de sentimentos ligada aos orientais. O que significa dizer que sua dor deve ser realmente forte.
Através da história de uma família pobre, cujo maior benefício é o fato de morar nas margens do Rio Amarelo, aproveitando a fertilidade do solo para plantar a própria comida, vemos a dura realidade da transição forçada por condicionadores econômicos e o esfacelamento dos sonhos de uma jovem que preferia continuar seus estudos a ter que aceitar o trabalho num dos muitos transatlânticos que cruzam o rio, cheio de turistas em busca de conhecer uma China antiga que já não existe mais.
Todo o processo incluindo a ocidentalização do próprio nome, além da necessidade desse trabalho para que sua família possa sair da margem do Rio Amarelo é sofrida. E o interessante é conseguir perceber o que os cidadãos comuns também devem ter sentido na transformação – por exemplo – da cidade de São Paulo naquela cidade moderna que vi ontem em Sinfonia da Metrópole...
É Tudo Verdade: A Voz de Bergman
Mostra Especial
A Voz de Bergman (The Voice of Bergman. Gunnar Bergdahl, 1997):
Acompanhados por Malu Mader na platéia, assistimos a essa conversa/aula com o diretor sueco, morto ano passado. Um documentário preocupado em conhecer a metodologia, os gostos e as vontades de um dos diretores mais prestigiados pelos estudiosos/amantes de cinema. Uma conversa em 8 atos, todos relacionados ao cinema e sua magia. Uma magia que Bergman considera como potencialmente prazerosa, já que ao juntar as várias anotações de seu caderninho transformando-as em uma coisa só, a poderosa sensação de ser o arquiteto das situações de uma vida é o melhor jogo de todos. Ao mesmo tempo em que não há motivo para a existência de um filme sem que ele consiga emocionar o espectador.
Às vezes os personagens saíam de sua cabeça e iam andando por conta própria, ao que Bergman precisava segui-los e isso era um pouco trabalhoso, dizia ele. Aliás, segundo conta, seus roteiros escapavam ao tédio comum embutido a esse tipo de texto, já que ele minuciosamente se dava ao trabalho de escrever as cenas falando de suas cores, cheiros e até dizendo claramente aquilo que gostaria de ver ao fazê-la para que fosse visualmente aprovada por todos os participantes do processo, principalmente os atores. E é fácil perceber que o diretor se empolga não somente com a amarração das tramas, mas com a criação de imagens, e em algum momento o vemos falar sobre o cinema mudo em que toda a experiência sensorial é repassada ao espectador unicamente de forma visual. Com isso pode-se supor algum purismo do sueco, para logo em seguida ouvi-lo dizer que tudo se transforma com o tempo, inclusive o cinema, dando a entender que chegou o dia em que só as imagens não sustentavam a transmissão de emoções.
E tremei amigos: ele não se esquece de falar sobre os críticos, dizendo que durante algum tempo eles participavam de discussões com os cineastas, e ele mesmo gostava de ouvi-los por sua erudição e embasamento. Atualmente, no entanto, ele consegue perceber que a necessidade urgente de criticar, devido ao acúmulo de produções, empobrece o trabalho, no sentido em que não há mais tempo para discussão e amadurecimento sobre a sensação de assistir às produções. Aí é que entra uma dúvida minha: em outro momento da conversa, Bergman cita um compositor que diz nunca ter compreendido a música, apenas aprendeu a senti-la, para afirmar que se você se esforça para entender o cinema de alguém, perde o foco real da atenção que são os sentimentos proporcionados pela película. Se estivesse lá, eu perguntaria: então o papel da crítica é o de confrontar opiniões acerca das sensações proporcionadas pelo filme? Bem que alguém já disse que a crítica é algo subjetivo, e nesse caso Bergman me deu mais uma peça desse quebra-cabeça que é entender o que venho fazendo, inclusive agora enquanto falo sobre este documentário, enquanto falo sobre ele.
Essa é uma compreensão que ele estende ao fazer-cinema. Durante a entrevista diz que assistia a todas as produções suecas de um ano durante o verão, e percebia na nova safra de diretores de seu país um grande talento para compor imagens e enredos, na montagem e na escolha das seqüências certas aos fins que se propunham. No entanto, Bergman sentia que todo o apuro técnico encontrado nisso não conseguia encobrir a deficiência – comum entre os novos – de não saber tocar o coração de sua própria história. E quando falo ‘coração da história’ estou reproduzindo a própria figura utilizada pelo diretor, e não usando uma licença poética para interpretá-lo. Ligado a isso, ele resume a ‘eficiência’ de um filme à fidelidade da produção à verdade do diretor/criador, ao tal ‘coração de sua própria história’. Afinal é isso que vale, e o que cabe ao espectador é conectar-se a essa sensibilidade, senti-la também.
Engraçado é vê-lo comentar sobre a infrutífera idéia de um filme em extreme close-up, da força dessa imagem de outro ser humano em close hipnotizando a platéia, sendo que neste documentário praticamente a imagem que se vê é a do diretor, não exatamente num close super, mas apenas ele, falando e hipnotizando a todos nós. Da mesma forma é engraçado vê-lo dizer que festivais são uma coisa cabível à indústria do cinema e interessante dentro do processo de venda dos filmes. Até legais, segundo ele, apesar da desconfiança de que se possa absorver mais de dois filmes por dia. Ao final diz que muitos festivais podem ser feitos, sem que no entanto o convidem. E ele aqui, como uma das figuras especiais deste festival. Pobre Bergman?
Termino como ele, dizendo que é melhor parar por aqui, pois eu poderia falar sobre esse documentário durante horas...
quarta-feira, 2 de abril de 2008
É Tudo Verdade: Wholes e São Paulo: A Sinfonia da Metrópole
Ambos tratam a cidade de São Paulo como personagem, e em certa medida como um organismo vivo, tentando assim mostrá-la através da humanização. E isso é mais facilmente perceptível em Sinfonia da Metrópole, filme mudo que traça a trajetória de 'modernização' de São Paulo usando um artifício intressante: vemos a sinfonia sendo montada aos poucos, acompanhando o ritmo da cidade desde seu despertar, até sua volta à quietude e tranquilidade no início da noite, sendo desta forma possível captar um ciclo inteiro deste organismo cujas engrenagens (termo muito apreciado pelos artistas da década de 1920, quando qualquer menção à máquinas era sinônimo de modernidade) trabalhavam em um ritmo comum e conjunto, contribuindo assim para sua evolução.
É bom dizer que a dupla de produtores húngara, Adalberto Kemeny e Rudolf Rex Lustig, donos da produtora Rex Filme, foram nomes importantes para o surgimento da Vera Cruz devido a seus conhecimentos sobre revelação de filmes cinematográficos e fotografia, conhecimentos estes extremamente necessários a criação de uma indústria nacional de cinema. Inspirados no filme Berlim, Sinfonia de uma Metrópole (de Walter Rutmann, 1927) os cineastas fizeram deste que mais parecia (e deve ter sido) uma peça publicitária encomendada pelo governo da cidade num filme experimental, que com fotografia e trucagens modernas à beça surpreende pela qualidade e ousadia do registro, e que por isso mesmo é considerado um clássico do documentarismo nacional. Em alguns momentos me lembrou muito o Metropolis de Fritz Lang, com suas transições entre mecanismos de relógios e a atividade da cidade, com suas fábricas e efervercência citadina. Ou quando mostra uma paisagem urbana em que numa montagem, aviões de brinquedo voam pelo céu para ressaltar o tamanho do progresso que existia ali.
Já Wholes, o outro filme, segue esse mesmo caminho, o de transpôr o próprio título do festival onde É Tudo Verdade e brinca com o gênero, levando para o formato uma crítica lúdica sobre a cidade de São Paulo que em 1991 já está cansada do título de uma das maiores cidades do planeta - que como diz a narradora, não sei a sexta ou a sétima, mas sei que grande - e com problemas bem sérios para se resolver, como a desigualdade social, a educação infantil pautada pela programação da tv e os vários buracos e inexistências que preenchem o vazio da metrópole.
No final Wholes nos deixa uma boa dúvida: será que São Paulo existe? Será que as metrópoles existem?
terça-feira, 1 de abril de 2008
Cine Players no É Tudo Verdade
Este ano a programação traz, além das mostras competivas (para documentários de longa/ média-metragem e para os de curta-metragem, em nível nacional e internacional), uma retrospectiva do documentário experimental brasileiro e outra com 10 documentários que mudaram o mundo (incluíndo Tiros em Columbine de Michael Moore e A Revolução Não Vai Passar na TV de Kim Bartley e Donnacha O'Brian). O Festival ainda conta com as mostras O Estado das Coisas, Foco Latino-Americano e Horizonte.
Um dos destaques nacionais é a estréia da produção dirigida por Patrícia Pillar: Waldick, Sempre no Meu Coração, que como o nome sugere traz um olhar sobre a vida de um dos cantores populares mais amados do Brasil, Waldick Soriano.
Outra novidade é a ampliação da rota do É Tudo Verdade : além de São Paulo e Rio de Janeiro, Brasília, Recife, Bauru-SP e Caxias-RS receberão o festival. Então fique atento, e se te interessa conhecer melhor a natureza e as possibiliades cinematográficas do gênero documental, é só clicar aqui e fique sabendo sobre a programação na sua cidade.
O Cine Players estará cobrindo a parte carioca do festival com uma enxuta equipe, num esforço para tentar trazer algumas boas impressões do que de melhor acontecer por lá (ou por aqui, depedendo de quem lê)
Aguardem as notícias.
Charles Chaplin
Já fiz coisas por impulso,
Já abracei pra proteger,
Já gritei e pulei de tanta felicidade,
Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
Mas vivi, e ainda vivo!
Viva!
- Charles Chaplin
http://www.youtube.com/watch?v=EsXq04ldhmM
http://www.youtube.com/watch?v=J3Pl-qvA1X8
segunda-feira, 31 de março de 2008
Quando a coisa ficou preta
Leio O Filme Noir, de Patrick Brion, cartapácio de 450 páginas sobre o que o autor chama de “A idade de ouro do filme policial americano, de Alfred Hitchcock a Nicholas Ray”. Ele analisa 82 filmes, contando várias fofocas de bastidores. A lista começa com Rebecca (1940), de Hitch, e vai até A Bela dos Bas-Fond (Party Girl, 1958), de Ray, como diz o subtítulo do livro.
Ele pára sua análise antes dos anos 60 porque, segundo Brion, o filme noir teria entrado em decadência a partir daí, apesar de admitir haver vários grandes filmes noir a partir dessa data. Ele disse querer se concentrar no auge.
O mais interessante é uma exaustiva lista que ele publicou logo no início da obra levantando TODOS os filmes noir do período. Ele os dividiu em três colunas: “os filmes noir” (os propriamente ditos), “em torno do filme noir” (tinham temas de crime, morte e sedução, mas não se alinhavam na estética) e “outros títulos” (filmes que foram influenciados pelos noir).
A terceira lista, por vezes hilária, tem filmes como Cidadão Kane, Bambi, O Grande Ditador. A segunda vai de Casablanca, O Retrato de Dorian Gray e O Homem que Sabia Demais.
A preciosíssima lista de todos os 203 filmes noir clássicos vem recheada da ficha técnica completa, várias informações curiosas, inúmeras fotos, biografia dos atores etc. Nos 82 selecionados como mais importantes pelo autor, análises curtas de 2 páginas até pequenos ensaios de 10 páginas, dependendo do gosto particular do autor.
Tudo saboroso, escrito sem nenhuma arrogância, sem fugir de nenhum assunto – por exemplo, traz uma frase da Veronika Lake reclamando que a figurinista Edith Head, bissexual assumida, beliscava a bunda as atrizes durante as provas de figurino.
Não resisti e segue a lista dos 82 filmes selecionados por Patrick Brion. Só Hollywood, infelizmente.
1940
Rebecca, a Mulher Inesquecível (Rebecca) Alfred Hitchcock
1941
O Falcão Maltês/Relíquia Macabra (The Maltese Falcon) John Huston
O Último Refúgio (High Sierra) Raoul Wash
Fúria no Céu (Rage in Heaven) W. S. Van Dyke II
Suspeita (Suspicion) Alfred Hitchcock
Quem Matou Vicki? (I Wake up Screaming) H. Bruce Humberstone
Estrada Proibida (Johnny Eager) Mervyn Leroy
1942
Capitulou Sorrindo (The Glass Key) Stuart Heisler
A Sombra de um Dúvida (Shadow of a Doubt) Alfred Hitchcock
1943
Quem Matou Quem? (Who Killed Who?) Tex Avery
A Dama Fantasma (Phantom Lady) Robert Siodmak
1944
Pacto de Sangue (Double Indemnity) Billy Wilder
Laura (Laura) Otto Preminger
Trilhos Sinistros (Murder, My Sweet) Edward Dmytryk
Um Retrato de Mulher (The Woman in the Window) Fritz Lang
The Strange Affair of Uncle Harry Robert Siodmak
1945
Alma em Suplício (Mildred Pierce) Michael Curtiz
Curva do Destino (Detour) Edgar G. Ulmer
Quando Fala o Coração (Spellbound) Alfred Hitchcock
Amar foi minha Ruína (Leave Her to Heaven) John M. Stahl
Anjo ou Demônio (Fallen Angel) Otto Preminger
1946
Três Desconhecidos (Three Strangers) Jean Negulesco
Gilda (Gilda) Charles Vidor
O Destino Bate a sua Porta (The Postman Always Rings Twice) Tay Garnett
Envolto nas Sombras (The Dark Corner) Henry Hathaway
A Dália Azul (The Blue Dahlia) George Marshall
Uma Aventura na Noite (Somewhere in the Night) Joseph L. Mankiewicz
Os Assassinos (The Killers) Robert Siodmak
À Beira do Abismo (The Big Sleep) Howard Hawks
Espelhos d’Alma (The Dark Mirror) Robert Siodmak
Correntes Ocultas (Undercurrent) Vincente Minnelli
A Dama do Lago (Lady in the Lake) Robert Montgomery
1947
O Beijo da Morte (Kiss of Death) Henry Hathaway
Prisioneiro do Passado (Dark Passage) Delmer Daves
Sem Sombra de Suspeita (The Unsuspected) Michael Curtiz
O Beco das Ilusões Perdidas (Nightmare Alley) Edmund Goulding
Fuga do Passado (Out of the Past) Jacques Tourneur
O Segredo atrás da Porta (Secret Beyond the Door) Fritz Lang
1948
Cidade Nua (The Naked City) Jules Dassin
A Dama de Shanghai (The Lady from Shanghai) Orson Welles
Rua sem Nome (The Street with no Name) William Keighley
Paixões em Fúria (Key Largo) John Huston
Uma Vida Marcada (Cry of the City) Robert Siodmak
A Taverna do Caminho (Road House) Jean Negulesco
A Força do Mal (Force of Evil) Abraham Polonsky
Baixeza (Criss Cross) Robert Siodmak
1949
Shockproof Douglas Sirk
Ninguém Crê em Mim (The Window) Ted Tetzlaff
Fúria Sanguinária (White Heat) Raoul Walsh
Amarga Esperança (They Live by Night) Nicholas Ray
A Ladra (Whirlpool) Otto Preminger
Pecado sem Mácula (Side Street) Anthony Mann
Maldição (House by the River) Fritz Lang
1950
Pavor nos Bastidores (Stage Fright) Alfred Hitchcock
O Segredo das Jóias (The Asphalt Jungle) John Houston
Sombras do Mal (Night and the City) Jules Dassin
Passos na Noite (Where the Sidewalk Ends) Otto Preminger
Mortalmente Perigosa (Gun Crazy) Joseph H. Lewis
O Cúmplice das Sombras (The Prowler) Joseph Losey
1951
Pacto Sinistro (Strangers on a Train) Alfred Hitchcock
Por Amor também se Mata (He Ran all the Way) John Berry
Torrente de Paixão (Niagara) Henry Hathaway
1953
Alma em Pânico (Angel Face) Otto Preminger
Os Corruptos (The Big Heat) Fritz Lang
Disque M para Matar (Dial M for Murder) Alfred Hitchcock
1954
A Morte Espera no 322 (Pushover) Richard Quine
Janela Indiscreta (Rear Window) Alfred Hitchcock
Pecado e Redenção (Rogue Cop) Roy Rowland
O Império do Crime (The Big Combo) Joseph H. Lewis
1955
Sábado Trágico (Violent Saturday) Richard Fleischer
O Beijo Fatal (Kiss me Deadly) Robert Aldrich
O Mensageiro do Diabo (The Night of the Hunter) Charles Laughton
O Poder do Ódio (Slightly Scarlet) Allan Dwan
1956
No Silêncio de um Cidade (While the City Sleeps) Fritz Lang
O Grande Golpe (The Killing) Stanley Kubrick
Suplício de uma Alma (Beyond a Reasonable Doubt) Fritz Lang
Ao Cair da Noite (Nightfall) Jacques Tourneur
1957
Honra de um Ladrão (The Burglar) Paul Wendkos
A Marca da Maldade (Touch of Evil) Orson Welles
1958
Um Grito de Terror (Cry Terror!) Andrew L. Stone
Um Corpo que Cai (Vertigo) Alfred Hitchcock
A Bela do Bas-Fond (Party Girl) Nicholas Ray
terça-feira, 25 de março de 2008
Ennio Morricone
Ontem à noite, fui ver o concerto regido pelo Ennio Morricone, no Teatro Alfa, em São Paulo. Apresentação única. Ingressos com preços pela hora da morte. Estavam presentes alguns colunáveis, políticos (vi o Guilherme Afif) e gente do meio musical (tenho quase certeza de ter visto o maestro Júlio Medaglia). Enfim, o beautiful people da capital paulistana.
Mas e o show? Bem, sou suspeito pra falar. Lembro de passar horas escutando as trilhas do Morricone, seja durante os estudos ou no rádio do carro. Lembro de rever alguns trechos dos filmes do Sérgio Leone só pra ouvir a música. Não sei quantas vezes já devo ter visto Era uma Vez no Oeste e Era uma Vez na América. Muito dessa minha paixão vem por causa da trilha. Em Era uma Vez no Oeste não esqueço de seqüências como a da entrada do Henry Fonda no filme (“Agora que me chamou pelo nome...”), a da chegada da Claudia Cardinali na estação de trem e do duelo entre o Charles Bronson e Henry Fonda já mais no final. Em Era Uma Vez na América, não me sai da cabeça o Robert De Niro retirando uma laje da parede, relembrando as escapulidas que dava, quando criança, para ver sua amada Deborah dançar ao som de Amapola (a personagem era vivida por uma jovem Jenniffer Connelly na fase adolescente e pela Elizabeth Montgomery, na fase adulta). Sua parceria com o Giuseppe Tornatore também é um espetáculo. O tema de amor de Cinema Paradiso e o tema principal de A Lenda do Pianista do Mar, são maravilhosos.
Morricone é mais conhecido do grande público por sua trilha de A Missão. O filme que chegou a conquistar a Palma de Ouro em Cannes e foi indicado para uma penca de Oscars. Para o meu gosto, A Missão perdeu muito do seu brilho com o passar do anos (como aliás, quase todos os filmes do Rolland Joffé). É uma belíssima trilha, sem dúvida. Melhor que a de Por Volta da Meia-Noite, que acabou, vai entender o porquê, vencendo o Oscar naquele ano. Mas ainda prefiro as trilha que o Morricone compôs para os faroestes do Leone, para os filmes políticos italianos dos anos 70 (Investigação de um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita, A Classe Operária vai ao Paraíso, Queimada e Sacco e Vanzetti) e as três que compôs para os filmes do De Palma (Os Intocáveis, Pecados de Guerra e Missão: Marte).
No espetáculo de ontem (que começou com meia hora de atraso), Morricone abriu com o tema inicial de Os Intocáveis, aquele que toca durante os créditos. Prosseguiu com o belo e épico tema de A Lenda do Pianista do Mar (receio que esse filme não resista a uma reavaliação). Depois, Cinema Paradiso e Malena (outra trilha de Morricone que supera o próprio filme). A melhor parte veio com a apresentação da soprano que o acompanha em todos os shows (cujo nome, agora, me foge). Morricone tocou o tema principal de Três Homens em Conflito (lembrado por todos como o do cigarros Camel), Era Uma Vez no Oeste, Quando Explode a Vingança (talvez a minha preferida) e fechou com Êxtase do Ouro, música mais conhecida de Três Homens em Conflito. Foi um show!
Na volta do intervalo, a programação escolhida era sensivelmente inferior. Ouvimos a trilha de Marco Pólo (desconheço esse filme), Pecados de Guerra, a canção tema de Sacco e Vanzetti e de Queimada (essas duas com o auxílio de um coral brasileiro). O concerto foi encerrado com três partituras de A Missão.
Pra não perder o costume, o público pediu bis e Morricone nos atendeu por três vezes. Claro que era tudo combinado. Nem a orquestra saía de sua posição, nem o Morricone levava suas partituras embora. Todo mundo sabia quando e se ele voltaria para mais um bis. De um modo geral, no entanto, a platéia reagiu de uma forma um pouco fria ao espetáculo. Pelos vídeos que vi do show do Morricone no Rio de Janeiro, a impressão que tive foi completamente diferente. Aplausos efusivos, gritaria, exigiram que o Morricone bisasse mais vezes do que estava programado. Acho que isso vem da própria característica do paulistano, mais racional, menos emotivo que o carioca. Não duvido nada que muitos dos presentes nem eram fãs da obra do Morricone. Estavam por lá mais preocupados em tirar fotos para as revistas de fofoca do qualquer outra coisa.
Como eu não tenho nada a ver com isso, hoje posso dizer que, ao menos uma vez na vida, consegui ver o Morricone ao vivo. Pra quem curte cinema e trilha sonora em especial (e não sei como é possível não gostar das duas coisas ao mesmo tempo), Morricone é programa imperdível. Tenho quase certeza que para os entendidos em música, sua obra seja considerada de segunda linha, uma espécie de "sertanejo da música erudita" (é provável que que todos os compositores de trilhas sonora para cinema sejam vistos com olhos tortos pelos demais colegas, seja o próprio Morricone, John Williams, Bernard Herrmann, Jerry Goldsmith, John Barry, Nino Rota etc. etc. etc.). Como não sou um expert em música, guardo o nome e as trilhas de Morricone como umas das minhas grandes paixões no cinema.
Assim como a noite de ontem.