Mostra Competitiva – Longas:
Cosmonauta Polyakov (Cosmonaut Polyakov. Dana Ranga, 2007)
Polyakov é um russo e foi o homem que mais tempo passou ao redor da terra. Grande conhecedor das minúcias da vida no espaço, o filme é uma entrevista didática em que ele nos conta e mostra o lado bom e ruim de ser astronauta. O processo probatório, o dia-a-dia no espaço, as conseqüências da falta de gravidade e radiação para o corpo humano, a experiência de comunhão com os outros tripulantes, vivendo em conjunto por tanto tempo, e sua família em terra, são tópicos do documentário. Com uma inocência infantil, Polyakov se emociona quando lembra que estar no espaço foi uma das mais felizes coisas que realizou durante a vida. Um pequeno diferencial no curso normal dos documentários é que durante a entrevista, víamos também uma sessão de fotos com o astronauta russo, e posteriormente algumas manipulações dessas imagens.
Vivendo hoje de treinar e estudar as possibilidades de viagens tripuladas à superfície de Marte, ele revela que existem homens que nascem para exercer esse papel maior e anularem-se em prol de algo mais valioso no curso da história das sociedades. Pelo menos Polyakov pode dizer que cumpriu seu papel.
Mostra Restrospectiva do Documentário Experimental Brasileiro:
Semi-Ótica (Antonio Manuel, 1973)
Utilizando fotos de crimes e de alguns homens comuns, o documentarista cria uma pequena ficha que propõe novas identidades aos fotografados, inserindo-os em novos contextos sociais que não os deles, inclusive alterando a catalogação da cor de suas peles, ou mesmo o sexo. Numa referência clara à temática levantada por Hélio Oiticica – Seja Marginal, Seja Herói – em que deu status de arte à foto do corpo morto do conhecido bandido da década de 1960, Cara de Cavalo, Antonio Manuel procura reavivar esta idéia, retirando da marginalidade alguns personagens desconhecidos.
Juvenília (Paulo Sacramento, 1994)
Produzido com apoio da ECA-USP esse documentário que mais parece um curta-metragem de ficção, mostra através de fotos estáticas um grupo de jovens se divertindo enquanto torturam um vira-latas. Usando vários tipos de apetrechos como pás, marretas e pedras, a ação dos jovens causou certo desconforto à moça que estava ao meu lado, que preferiu virar o rosto durante os 7 minutos de duração do curta.
Utilizando a música para enfatizar a ação, uma curiosidade sobre o filme é a atuação de Soninha, a ex-vj da MTV e hoje deputada (?) pela cidade de São Paulo.
Chapeleiros (Adrian Cooper, 1983)
Mostrando a ação de um dia numa fábrica de chapéus, o que vemos é todo o processo produtivo na confecção do produto, os movimentos repetidos, as diferentes funções e a variação das pessoas que compõem os trabalhadores da fábrica: adolescentes, donas-de-casa, rapazes com jeito de galã, senhores e senhoras de idade que durante o processo se igualam pelo trabalho e se individualizam apenas no final do dia, quando deixam a fábrica e voltam a seus cotidianos e referências singulares.
Interessante é que o cineasta enfatiza, durante a saída, que alguns trabalhadores usam chapéus. De onde terão vindo eles, os chapéus?
Vera Cruz (Rosangêla Rennó, 2000)
Numa tela quase branca alguns traços que se movimentam ao ritmo do mar, cujo som escutamos e que varia de acordo com a tonalidade da tela, dando idéia de claro-escuro. Assim é que lemos os possíveis diálogos que envolveram a chegada das naus de Cabral às terras brasileiras. O primeiro contato com os índios; as trocas; a primeira missa; o espanto com os corpos nus e as tentativas de misturarem-se e conhecerem melhor uns aos outros são o teor dos diálogos.
Uma nova forma de tratar o conhecido texto da carta de Pero Vaz de Caminha, excluindo a dramatização – em geral, tão cafona – do encontro entre portugueses e índios. O documentário apenas sugere aquilo que nunca poderá voltar a ser reproduzido com exatidão: a imensidão do novo. Para ambos os lados desse diálogo.
Com esse último post me despeço do É Tudo Verdade, que continua até domingo aqui no Rio de Janeiro.
Outro dia posto sobre os vencedores das mostras competitivas.
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