sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Woody Allen 2

Com a segunda aula do curso sobre o Woddy Allen, ministrado pelo didático Sérgio Rizzo, foi possível identificar com mais clareza a primeira fase da filmografia do diretor. Ela vai da sua estréia (cuja data há controvérsias, se seria em 1965, com What´s Up, Tiger Lily?, ou 1968, com Um Assaltante bem Trapalhão) até 1975, com o lançamento de A Última Boris Grushenko. A partir de seu filme seguinte, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, nasce um novo Woody Allen, com pretensões a um projeto de cinema mais sério e denso.

Ainda inseguro como cineasta, Allen não sabia direito onde colocar a câmera. Na dúvida, se cercava todas as possibilidades, filmando as cenas de diversos ângulos diferentes e deixando para decidir qual a melhor no momento da montagem. Ao fim de Um Assaltante bem Trapalhão, viu-se com um material filmado que não tinha fim, sem saber como dar àquilo uma lógica. Allen nunca escondeu que quem colocou a ordem na casa e salvou o filme, foi o montador Ralph Rosemblum, profissional que virou seu homem de confiança por todos os trabalhos que dirigiu ao longo da década seguinte.

Nessa primeira fase, Allen encontrou na paródia de determinados gêneros um ponto de partida. Uma espécie de muleta. Ele partia de algo conhecido, descontextualizava, subvertia os clichês, brincava com as tradições. Em Um Assaltante bem Trapalhão, a sátira recai sobre os filmes de gângster. Em Bananas, são os filmes políticos e românticos. Em O Dorminhoco, os filmes de ficção cientifica. Em todos eles, Allen personificou a figura do clown, aquele indivíduo deslocado de seu ambiente e com forte sensação de inferioridade e fragilidade em relação aos demais (os óculos servem de apoio para a fixação dessa imagem).

A partir de A Última Noite de Boris Grushenko há uma nítida mudança de tom. Revi um trecho do filme ontem, durante a aula, e é incrível como as piadas passam a ser mais bem elaboradas. A graça do texto, muito mais sofisticada. Se antes, eu humor bebia na fonte das comédias dos anos 10 e 20, de fácil identificação pela platéia, agora sua inspiração passava a ser a literatura clássica russa e os filmes de Ingmar Bergman. Os diálogos tratavam sobre a morte, filosofia e a existência de Deus. O filme passava a exigir do público um certo grau de erudição.

Noivo Neurótico, Noiva Nervosa marca o começo de uma nova fase da obra de Allen. Ele passará a adotar a figura do novaiorquino, judeu, neurótico, hipocondríaco, envolto em seus problemas familiares e sentimentais. O personagem se entrelaçará com o artista. O humor será muito mais inteligente, perspicaz e sofisticado. O Woody Allen que conhecemos hoje, nascia aí.

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