quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Ardil 22

Antes de Onde os Velhos Não Têm Vez tinha lido o romance Ardil 22 (Catch 22), que Joseph Heller escreveu em 1961.

Imperdível.

O sucesso do livro foi tanto que a expressão "Catch 22" se incorporou aos dicionários da língua americana. Expressa qualquer paradoxo ou situação ilógica por que passamos. No livro, soldados americanos estão alocados em Pianosa, uma ilha perdida no meio da Europa. Há uma regra que permite que os combatentes peçam licença definitiva do exército se alegarem que estão loucos. Mas o fato de a pessoa se considerar um louco é a prova justamente de que ela não está. Esse é o Ardil 22.

A adaptação do romance foi lançada em 1970 e dirigida pelo Mike Nichols. O protagonista, Capitão Yossarian, foi interpretado pelo Alan Arkin. Vi Ardil 22 há muito tempo, ainda em VHS. Não lembro de praticamente nada. Não curti muito. Não sei se o resultado ficou meio pesado ou se as piadas não funcionavam, o fato é que não "entrei" no filme. Agora, tendo lido o livro, vejo que é um material praticamente infilmável. Não há uma história propriamente dita. São apenas cenas (algumas bizarras e sem sentido) e personagens (vários) que vão desfilando capítulo a capítulo à sua frente, sem qualquer preocupação com um fio narrativo. Mesmo assim, senti vontade de rever o filme.

Pelo que li, Ardil 22 foi um dos maiores fracassos da época. Custou muita grana mas fez água nas bilheterias. Alguns tentaram explicar a rejeição do filme pelos americanos por causa do momento do país, que ainda vivia o Vietnã. Ninguém estava disposto encarar uma comédia ambientada numa guerra. Não sei se isso explica muita coisa, já que M.A.S.H, que Robert Altman filmou no mesmo ano e que trata de tema semelhante (muda-se apenas a guerra), foi sucesso de público e crítica.

Mike Nichols, o diretor, devia estar com tudo na época. Vinha do teatro, onde já era respeitado. Em 1966, adaptou a peça de Edward Albee, Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, levando 5 dos 13 Oscar para os quais foi indicado. No ano seguinte, ele mesmo ganhou o seu Oscar pela direção de A Primeira Noite de um Homem, excelente comédia, mas que sempre funcionou mais nos EUA do que aqui no Brasil. Nichols devia estar com tudo. Ele sabia que teria dinheiro de sobra pra torrar no projeto que bem entendesse. Quis encarar o desafio de adaptar o livro do Joseph Heller, desejo de 10 entre 10 diretores da época. Acho que o roteiro era do Buck Henry, que já tinha escrito A Primeira Noite de um Homem. Pelo jeito, o resultado não agradou nem a gregos nem a troianos. De qualquer forma, Nichols se recuperou no ano seguinte com Ânsia de Amar, belo retrato do homem americano dos anos 60 e 70, estrelado pelo Jack Nicholson. Ao longo dos anos 90, Nichols ficou meio longe do cinema. Fez alguns filmes para a TV, dentre eles Angels in America. Agora, depois de Closer e Jogos do Poder (que ainda não vi) parece ter voltado à moda.

Ardil 22. Para quem não leu, faça-o. Para quem já viu o filme, como eu, creio que uma revisão será muito bem vinda.

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