quinta-feira, 3 de abril de 2008

É Tudo Verdade: Cinema Inocente e Subindo o Rio Amarelo

Mostra Retrospectiva do Documentário Experimental Brasileiro

Cinema Inocente (Júlio Bressane, 1980):

Um documentário cujo elemento fundamental é a montagem, em que Júlio Bressane sai a procurar de Radar, montador de uma centena de pornochanchadas e figura por demais simpática. Aproveitando o fato de ter sido chamado pelo entrevistado de Pedrinho e cineclubista, Bressane parece convencer o montador a uma jogada lúdica, a possibilidade de ser o ator dessa vez, sendo ele mesmo. E a partir daí vemos várias situações cujas correlações são a montagem e a ‘desestigmação’ do cinema, no sentido de que tudo gira em torno dos clichês e dos ícones maiores da sétima arte: entre uma cena e outra, a intercalação de clássicos do nascimento do cinema – quando o simples registro do cotidiano era o principal tema -, e cenas de pornochanchadas, além de muitos devaneios; folheamos um exemplar inteiro de Cahiers du Cinéma, assim como vemos Bressane entrevistar um pseudo cineasta francês, amigo de Radar, tudo isso baseado no mote do filme: cinema inocente é aquele que é feito sem a consciência do que é cinema.

Sabe que no final das contas eu cheguei mesmo a duvidar que Radar se chame Radar e saiba montar um filme?

(Se não fosse pelo Bergman, elegeria este o melhor filme do dia)

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Mostra Competitiva - Longas

Subindo o Rio Amarelo (Up the Yangtze. Yung Chang, 2007):

Um documentário que se ocupa em mostrar uma das faces do novo capitalismo criado pela China, cujos impactos da criação de uma das maiores hidrelétricas do mundo, a Três Gargantas, é sentido pelo homem comum. Uma das cenas mais impactantes inclusive é a de homem, que como todos os 4 milhões de relocados devido a criação da barragem, não consegue esconder a própria emoção ao dizer que é muito difícil o cotidiano de um homem comum na China hoje, deixando de lado a costumeira contenção de sentimentos ligada aos orientais. O que significa dizer que sua dor deve ser realmente forte.

Através da história de uma família pobre, cujo maior benefício é o fato de morar nas margens do Rio Amarelo, aproveitando a fertilidade do solo para plantar a própria comida, vemos a dura realidade da transição forçada por condicionadores econômicos e o esfacelamento dos sonhos de uma jovem que preferia continuar seus estudos a ter que aceitar o trabalho num dos muitos transatlânticos que cruzam o rio, cheio de turistas em busca de conhecer uma China antiga que já não existe mais.

Todo o processo incluindo a ocidentalização do próprio nome, além da necessidade desse trabalho para que sua família possa sair da margem do Rio Amarelo é sofrida. E o interessante é conseguir perceber o que os cidadãos comuns também devem ter sentido na transformação – por exemplo – da cidade de São Paulo naquela cidade moderna que vi ontem em Sinfonia da Metrópole...

Um comentário:

aka Victoria Lucas disse...

Sabes onde posso comprar Cinema Inocente? Quero ver muito!