Sexta-feira à noite, vejo o Telecine Cult anunciar sua próxima programação: Carrie, a Estranha, do Brian de Palma. Pensei em mudar de canal, afinal Carrie é daqueles filmes que já vi um sem número de vezes. Mas nem bem ele começou, comecei a ver aquela seqüência inicial com a câmera sobrevoando a quadra de voley para se concentrar na Sissy Spacek, seguido do travelling lateral, em câmera lenta, dentro do banheiro feminino do colégio, e não consegui mais me desgrudar.
Carrie é um daqueles filmes com os quais tenho uma relação tão próxima que, hoje, anos depois de tê-lo visto pela primeira vez, tenho enorme dificuldade de analisá-los friamente. Geralmente tenho esse sentimento os filmes feitos no início da década de 80, quando eu começava a me interessar por cinema. Não me peçam, portanto, pra escrever sobre Os Caçadores da Arca Perdida, ET, De Volta para o Futuro, O Feitiço de Áquila, Doublê de Corpo etc. etc. Mesmo vendo claramente os defeitos de cada um deles, permaneço com a visão idealizada lá de trás.
Com Carrie é a mesma coisa. São tantas as cenas que sei de cor, que tenho a tendência de esquecer suas falhas. Revendo-o agora, fica nítida a falta de motivação de alguns personagens (por mais que a personagem da Amy Irving arrependida pelo que fez com a Carrie na seqüência inicial da menstruação, ela nunca abriria mão de ir ao baile e do namorado); a fragilidade das interpretações (a dupla Nancy Allen e do John Travolta parecem amadores e a Piper Laurie dá um show de super-representação); o final abrupto e de certa forma incoerente. Em certos momentos, Carrie lembra um terror B.
Mas o que fica de Carrie é a maestria do DePalma. Sua capacidade de manipular o espectador é impressionante. Seu trabalho de câmera é invejável. Toda a cena do baile ainda hoje impressiona. A entrada de Carrie no salão. A dança com a câmera girando ao redor do casal Carrie e Tommy Ross. Mas nada supera o longo movimento de câmera em que De Palma revela qual o destino que está preparado para a protagonista. A câmera sai da mesa da Carrie, acompanha lateralmente uma das personagens que traz em suas mãos os votos para o rei e a rainha do baile, prossegue com ela entregando os papéis para a comissão julgadora, continua ainda lateralmente mostrando agora uma corda presa à estrutura do palco, repentinamente ela inicia um movimento vertical e vai buscar o balde contendo o sangue de porco, logo acima desse mesmo palco. DePalma realmente já foi grande um dia.
Por traz do verniz de terror, Carrie toca ainda no tema da necessidade de sermos vistos e aceitos pelos outros, da nossa sensação de sermos diferentes dos demais e, por isso mesmo, não estarmos inserido no contexto. A cena inicial da quadra de voley e do banho, quando Carrie tem sua primeira menstruação, retratam bem esse sentimento.
Aliados a outras virtudes (a interpretação de Sissy Spacek e a trilha sonora do pouco valorizado Pino Donaggio), Carrie permanece com um lugar reservado entre meus filmes de terror preferidos.
Carrie é um daqueles filmes com os quais tenho uma relação tão próxima que, hoje, anos depois de tê-lo visto pela primeira vez, tenho enorme dificuldade de analisá-los friamente. Geralmente tenho esse sentimento os filmes feitos no início da década de 80, quando eu começava a me interessar por cinema. Não me peçam, portanto, pra escrever sobre Os Caçadores da Arca Perdida, ET, De Volta para o Futuro, O Feitiço de Áquila, Doublê de Corpo etc. etc. Mesmo vendo claramente os defeitos de cada um deles, permaneço com a visão idealizada lá de trás.
Com Carrie é a mesma coisa. São tantas as cenas que sei de cor, que tenho a tendência de esquecer suas falhas. Revendo-o agora, fica nítida a falta de motivação de alguns personagens (por mais que a personagem da Amy Irving arrependida pelo que fez com a Carrie na seqüência inicial da menstruação, ela nunca abriria mão de ir ao baile e do namorado); a fragilidade das interpretações (a dupla Nancy Allen e do John Travolta parecem amadores e a Piper Laurie dá um show de super-representação); o final abrupto e de certa forma incoerente. Em certos momentos, Carrie lembra um terror B.
Mas o que fica de Carrie é a maestria do DePalma. Sua capacidade de manipular o espectador é impressionante. Seu trabalho de câmera é invejável. Toda a cena do baile ainda hoje impressiona. A entrada de Carrie no salão. A dança com a câmera girando ao redor do casal Carrie e Tommy Ross. Mas nada supera o longo movimento de câmera em que De Palma revela qual o destino que está preparado para a protagonista. A câmera sai da mesa da Carrie, acompanha lateralmente uma das personagens que traz em suas mãos os votos para o rei e a rainha do baile, prossegue com ela entregando os papéis para a comissão julgadora, continua ainda lateralmente mostrando agora uma corda presa à estrutura do palco, repentinamente ela inicia um movimento vertical e vai buscar o balde contendo o sangue de porco, logo acima desse mesmo palco. DePalma realmente já foi grande um dia.
Por traz do verniz de terror, Carrie toca ainda no tema da necessidade de sermos vistos e aceitos pelos outros, da nossa sensação de sermos diferentes dos demais e, por isso mesmo, não estarmos inserido no contexto. A cena inicial da quadra de voley e do banho, quando Carrie tem sua primeira menstruação, retratam bem esse sentimento.
Aliados a outras virtudes (a interpretação de Sissy Spacek e a trilha sonora do pouco valorizado Pino Donaggio), Carrie permanece com um lugar reservado entre meus filmes de terror preferidos.
2 comentários:
Sem sombras de dúvidas um dos meus favoritos também. Disse tudo excelente analise!!!
E realmente lendo o post deu até vontade de pegar o dvd e ver novamente isso porque eu comprei esse filme uns dois anos atrás.
^^
Em compensação ontem mesmo eu vi Fantasma do Paraíso pela primeira vez. Q decepção, parecia tão divertido! Mala de dar nojo, e aquela estilização toda sem um pingo de verdade nos olhares dos atores, todo mundo brincando de brincar q tá tudo bem, mas se sentindo meio ridículo e dando show de over-acting.
Não é a toa q o estúdio roubou essa bomba das mãos do de Palma pra ver o q fazia com ele. Se ainda fosse tipo o THX - 1138, q era estupendamente bom e pessoal, mas impossível de ser vendido por um grande estúdio naquele momento, daí tudo bem. Mas não, perda total e plena de uma hora e meia de grandes idéias q podiam dar num puta filme.
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