segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Festival do Rio - Dia 3 (parte 1)

21- O Aniversário de David (Il Compleanno, 2010, Itália)

Matteo (Massimo Poggio) é um analista bem sucedido, de 40 anos, casado com Francesca (Maria de Medeiros, e que por ter tido uma infância difícil, nunca se permitiu ser irresponsável, ou "vagabundo", como ele mesmo coloca. Sempre se obrigou a estudar e trabalhar para conseguir os seus objetivos sem depender dos outros, e com isso criou um complexo de superioridade. Matteo vive aparentemente bem, devotado ao trabalho, a esposa e a filha, até que durante as férias de verão, conhece o filho de um casal de amigos, David, um modelo com conteúdo, despertando o seu interesse até então adormecido.

A ação do filme se passa exatamente nessas férias de verão, onde os dois casais, com seus filhos, alugaram uma casa numa praia da Itália. A relação é muito bem estabelecida e envolvente, mas conforme as fachadas vão ruindo e os relacionamentos se deteriorando, a direção carrega um pouco no drama e o filme fica bem menos interessante. O fato do ator brasileiro iniciante Thyago Alves (um cover do Jesus Luz, e que interpreta David) ser jogado no meio de um elenco afiado e experiente, só ajuda a quebrar ainda mais a história do meio pro final. Ainda assim, Poggio e Medeiros sustentam o interesse na trama até o final, que é muito mais dramático do que deveria e com uma solução fácil demais, quase preguiçosa. Uma pena, mas não é de todo ruim.

Nota: 6.5

22- A Encruzilhada (Kavsak, 2010, Turquia)

Uma boa surpresa a Turquia. O filme acompanha a vida de diversos personagens que se cruzam ao longo da trama. Eu sei, seu sei, essa é a trama de Crash, Magnólia, e tantos outros filmes, mas aqui ocorre sem exageros. Guven trabalha em uma empresa de contabilidade, e não participa de nenhuma atividade social alegando que sua mulher e filha são muito apegadas, mas na verdade ele mora sozinho. Seu segredo é ameaçado quando uma companheira de trabalho, Arzu, se muda para a sua sala e percebe incongruências na sua história. Ela mesma está passando por um divórcio difícil e tem que se dividir entre o trabalho, a filha, e o ex-marido alcólatra. No trabalho, um jovem que precisa desesperadamente de dinheiro pra ajudar a irmã que está no hospital, chantageia Guven para encobrir um desvio de dinheiro.

O filme poderia passar desapercebido não fosse a grande eficiência do elenco, que transformam essa história, que poderia ser pesada e melodramática em uma coleção de personagens interessantes. Não simpatizamos com Guven no princípio, mas a interpretação de Güven Kiraç é comovente, e conforme vamos conhecendo os detalhes que o levaram a mentir sobre a família, e o que realmente aconteceu com eles, vão conquistando o expectador, pouco a pouco. O mesmo pode ser dito sobre Sezin Akbasogullari, que a princípio tem toda a simpatia e pena por ser mãe divorciada de um alcólatra que resiste em deixar a família de lado, mas que ao remexer na vida do colega de trabalho, tentando esquecer seus próprios problemas, vai ganhando dimensões bem menos óbvias.

O roteiro tem alguns deslizes e forçações de barra, mas é um bom filme, graças a direção segura e ao ótimo elenco.

Nota: 7.0

23- Isto é o amor (This is love, 2009, Alemanha)

Meu primeiro filme alemão do Festival, que em outros anos tanto me trouxe alegrias. E apesar desse título, o filme passa longe de ser uma comédia romântica, ou até mesmo um romance no sentido mais convencional da palavra.

Corinna Harfouch interpreta Maggie, uma policial que foi abandonada pelo marido sem nenhuma explicação 16 anos atrás, e desde então se afastou da filha e se tornou uma alcólatra. No trabalho, se depara com o caso de Chris (Jens Albinus), um homem que tentando ajudar uma menina vietnamisa a encontrar uma família, acabou arranjando mais problemas do que poderia resolver, e que foi preso ao tentar se matar jogando seu carro contra um caminhão. Maggie vai ter que tentar elucidar o que aconteceu com a menina enquanto lida com seus próprios demônios.

Assim como a memória de um bêbado, vamos entendendo aos poucos como Maggie chegou naquela situação, onde parece não se importar com trabalho, com a filha, e é um fantasma do que foi um dia. Ela chega a dizer que a sobriedade é uma alucinação gerada pela abstinência de bebida alcólica. Ao mesmo tempo, vamos entendendo o que se passou na vida de Chris, que se recusa a contar sua história inteira, comer, beber água, e pergunta constantemente a quanto tempo está preso. São dois personagens interessantíssimos e bem construídos, não são fáceis de se relacionar, ou sequer de gerar qualquer empatia. A relação de Chris com a menina vietnamisa Jenjira é sempre dúbia, o que nos leva a não confiar plenamente nele, nem nela. Já Maggie é ainda mais complicada, já que nenhuma de suas atitudes nos levam a simpatizar com ela. Mas conforme o desenrolar da história, percebemos que nada é tão simples, ninguém é tão bom ou mal. E o final é bastante forte e reflexivo. Certamente um dos que valem a pena conferir no Festival.

Nota: 8.8

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