Últimas impressões sobre o Festival do Rio 2010:
Sofia Coppola é um caso bem sucedido de quem encontrou o seu jeito de filmar e agora segue experimentando. Mostrando cada vez mais domínio sobre a narrativa anticlimática e elegendo o tédio como interlocutor, Sofia segue investigando uma subjetividade atual e bastante comum, e a pergunta parece ser sempre a mesma: com o que será que se importam as pessoas hoje?
As referências pop aparecem cada vez mais naturalizadas (algo que deve ter feito Tarantino vibrar a ponto de premia-la em Veneza): a batalha de Guitar Hero só perde para o diálogo entre pai e filha sobre a história da Saga Crepúsculo, cuja citação não precisa nem ser explícita. Interessante também como Sofia se apropria de detalhes afetuosos, como a tatuagem de Dorff onde se lê Cleo, mesmo nome da personagem de Elle Faning.
Se há um cinema contemporâneo que sabe utilizar os conhecidos 'tiques' do que se convencionou chamar 'estética indie' a seu favor, Sofia Coppola dá um ótimo exemplo.
Nota: 9
Turnê
Filme pelo qual Mathieu Amalric foi premiado como melhor diretor em Cannes, Turnê tem um ritmo bem rock'n'roll, e me desculpem os puristas, mas ser rock'n'roll hoje em dia não é pra todo mundo e acho digno valorizar o termo enquanto adjetivo.
Viagens pessoais a parte, Turnê é bem agradável de ser visto, principalmente por causa das cenas de espetáculo, todas elas bem dirigidas e em alguns momentos reforçando a estética neoburlesca através da fotografia.
Figurino, maquiagem e trilha sonora super acertadas.
Nota: 8
Machete é desses filmes nascidos pra serem cultuados enquanto produto pop e isto não é um problema. A questão é que Robert Rodriguez se esforça tanto que esquece de se divertir, lição esta que ele deveria ter aprendido com o amigo Tarantino. O que torna inevitável a comparação entre os dois é justo a larga diferença entre a sensibilidade de ambos para moldar material tão parecido.
Divertido e sujo Machete inegavelmente é. Vale dizer que as melhores cenas do trailer fake que deu origem ao longa estão lá e Dani Trejo ganhou o papel pelo qual será eternizado. O apelo é fortíssimo e Lindsay Lohan interpretando o papel dela mesma é só uma das camadas de queijo extra desse sanduíche podrão. Risada garantida ou seu dinheiro de volta.
Nota: 7
Alguém precisa dizer ao Woody Allen que por mais que ele goste de filmar ninguém irá condená-lo por tirar um ano de férias. Depois de pensar que ele tinha recobrado o fôlego com Tudo Pode Dar Certo, o diretor pareceu meio preguiçoso desta vez: desenrolando burocraticamente o mesmo processo narrativo que costumamos associar ao seu cinema, Você vai conhecer o homem dos seu sonhos termina sem esmero e cheio de arestas.
A gente poderia ter ido dormir sem essa, hein Allen?
Nota: 6
A boa do festival foi ter conhecido o cinema de Apichatpong.
Tio Boonmee enquanto narrativa fantástica alcança com mérito o efeito de naturalizar o absurdo sem forçar a barra. Além disso é possível liga-lo à Somewhere no que diz respeito à afetividade com que são contadas as duas histórias: enquanto Sofia Coppola mergulha na subjetividade contemporânea, Apichatpong reincorpora o folclore ao cotidiano com doçura e muito respeito.
Acredito que o reconhecimento que Tio Boonmee vem recebendo diz muito também sobre a carência do cinema ocidental por novos modelos narrativos. Apichatpong não rompe com nada, mas apresenta os mesmos elementos de narrativa dispostos de outra maneira, e ainda que seja repetitivo citar isso duas vezes em dois parágrafos, o grande tempero é mesmo a afetividade.
Nada em Tio Boonmee parece ser burocrático e Apichatpong pareceu aquele velho aldeão que sabe manipular seus ingredientes fazendo a alquimia acontecer.
Nota: 10
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