sábado, 13 de setembro de 2008

Os cinemas de bairro e o Festival do Rio

Algumas estatísticas aterrorizam qualquer brasileiro apaixonado por cinema. Por exemplo, vocês sabiam que menos de 10% das cidades brasileiras possuem cinema hoje (não lembro dos números exatos, mas é algo em torno de 7%). É bizarro pensar que quem faz cinema hoje no Brasil (e eu pretendo ser um deles) não tem alcance algum. E olha que não estou nem adentrando em assuntos como distribuição e exibição, que são tão complexos quanto (a Ancine, a agência reguladora do nosso cinema, está tentando modificar isso, através de incentivos via isenção fiscal, da mesma forma como são feitos a maioria dos filmes hoje).

Essa introdução é apenas para apresentar um grave problema que a cidade do Rio de Janeiro vem enfrentando - e creio que todo os 7% também - o fechamento de cinemas de rua. Hoje, cinema é sinônimo de multiplex, várias salas pequenas reunidas em um shopping passando  o que for de mais pipoca do lixo estadunidense. 

O Rio recentemente perdeu um dos seus cinemas mais charmosos, o Paissandu, no Flamengo, famoso por ter formado nos anos 60 a "geração paissandu", de jovens e intelectuais de esquerda que iam para lá assistir aos filmes de Godard, Truffaut, Antonioni e Malle - não por acaso, a sessão de encerramento do cinema foi Trinta Anos Esta Noite. Há uma confusão entre o Grupo Estação (que controlava o cinema e também responsável pelo Festival do Rio) e o proprietário do imóvel, um disse-me-disse na imprensa e ninguém sabe o que vai acontecer. Mas o Paissandu já está fechado. Fico triste porque frequentei muito pouco este cinema, até porque ficava fora de mão. A última vez que fui por aquelas bandas foi para uma sessão dupla, no próprio Festival do Rio há alguns anos, no qual assisti a Crash - No Limite (e que acabou dando origem àquela crítica minha que está no site, que por acaso é um dos melhores textos que já fiz). 




E quando nós, cinéfilos, já estávamos nos recuperando da notícia desse lamentável episódio, eis que surge outra bomba: o Cine Palácio também está para fechar.  Desta vez, o hotel que está ao lado do imóvel o comprou para fazer do espaço um centro de convenções. O lindo Palácio, inaugurado lá nos anos 20, está para fechar. O Prefeito César Maia (acorda, prefeito!) fez um tombamento provisório do imóvel, mas é até previsível o desfecho desse episódio. Eu, assim como muitos, terão nesse Festival do Rio que começará daqui a 2 semanas, a última oportunidade de freqüentar esse que é um templo do cinema nacional. Será a chance, quem sabe, de fazermos algum protesto ou algo que o valha, já que a comunidade cinéfila estará reunida.

Agora é rezar para que os deuses do cinema preservem o Odeon. Amém.

3 comentários:

Carlos Vinícius disse...

Já peguei o terço, Andy. =/

Anônimo disse...

Na realidade, foram os Shopping Centers que salvaram o cinema. Com o advento do VHS, o aumento da violência urbana e a cada vez maior monopolização da TV, os cinemas estavam cada vez mais em baixa.
Atualmente, com cinemas dentro dos shoppings, as pessoas se sentem mais seguras. E nem se compare a tecnologia de um Kinoplex/Cinemark com uma outra empresa de menor expressão. E é essa tecnologia que vem segurando o cinema atualmente, pois qualquer um pode baixar filmes na Internet agora, porém, logicamente, o impacto nunca será o mesmo de uma sala de cinema.

Se ão fosse por isso, a industria cinematográfica estaria em queda livre, assim como a fonográfica("contra burguês, baixe MP3!").

geo disse...

Eu não tenho tanto apego às salas de cinema aqui do Rio ainda, mas sem dúvida que eu fui lá me despedir do Paissandu:
http://cineorly.wordpress.com/2008/08/31/cine-paissandu/